Curtas: casamento

A galera toda estava reunida na casa dele para ver o jogo. Jogão, final de campeonato. Bandeira, clima agitado, tudo perfeito. Maria Helena entra na sala e o chama com aquele tom que só poderia significar que ele estava seriamente encrencado, ou que tinha acabado o papel higiênico.

– Maria Helena, não venha me atazanar agora! Isso lá é hora de discutir a relação, mulher? – disse ele em um grito que deixou todos assustados.

Antes da porta bater eles ouviram ela murmurar alguma coisa sobre casa da mãe. Todos olharam para ele sem saber como reagir. Ele, distraído, disse sem desgrudar os olhos da TV:

– Temos papel, eu conferi hoje cedo.

Estaria encrencado de qualquer maneira… só que agora poderia ver o jogo.

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Ele chegou no trabalho com um bem delineado, auto-explicativo e nada discreto chupão no pescoço.

– O que é isso no seu pescoço?
– Um chupão, oras…
– Fala a verdade.
– É verdade. Um chupão.
– Imagina. Na sua idade? Quantos anos de casado? Dezoito?
– Mas é um…
– Olha, não quer falar tudo bem. Mas hoje em dia é bom não bobear com essas coisas. Tá aqui o cartão do meu dermatologista. Vai dar uma olhada nisso, vai…

Comments
4 Responses to “Curtas: casamento”
  1. Daniel TC disse:

    Acho que esse foi o mais fraco. Ou não entendi porque não sou casado. Mas os outros textos estão EXCELENTES! Invejável seu talento! =]

  2. Nelson Moraes disse:

    Ei, legal, cara. Mesmo. Go on, gon on.

    Abração.

  3. Patrícia disse:

    Quem é esse Daniel? Está na minha lista negra…usar o”mais” no comentário, tudo bem, mas junto com “fraco”? QUAL É ?!? (brincadeira hein!)

    • Roberto Cantanhede disse:

      Liga não Patrícia, o comentário tem hora e data, dá para deduzir “o mais fraco até agora”.

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  • Sobre A Bicicleta

    Dia desses, a muito tempo atras, escrevi umas coisas que estavam na minha cabeça e nasceu uma primeira crônica (pelo menos na minha vida adulta). Ela se chama “A bicicleta”, daí o nome desse blog. Meu irmão até hoje prefere essa crônica, o que pode indicar que atingi meu ápice logo no início e depois foi ladeira abaixo… De qualquer modo, vez por outra sou assaltado por uma crônica (ver “Metacrônica”) e anoto por aí. Para não ficar por aí, passei a deixar por aqui nesse blog, apesar de meus receios (ver “O Blog”). Obrigado pela visita e não esqueça de comentar.