Autobiografia não autorizada
– Tudo que eu escrevo é autobiográfico.
– Pois não?
– Sabe como é, tudo que escrevo conta fatos da minha própria vida.
– E você seria?
– Ah! Descupe. Adolfo.
– Você é escritor?
– Mais ou menos. Vou por aí contando umas historinhas despretenciosas, fazendo uns rabiscos, coisas assim. Mas não consigo criar nada totalmente original, é sempre algo baseado na minha própria vida.
– E isso é um problema?
– Sei lá, me sinto exposto, despido.
– Mas na vida tudo é assim. Nós sempre colocamos um pouco de nós mesmos em tudo o que fazemos.
– Mas no meu caso eu luto contra isso e não consigo evitar. Sou um biógrafo não autorizado de mim mesmo.
– E você é do tipo que guarda segredos?
– Bem, confesso que em alguns cantos obscuros, o nome Adolfo é pronunciado com certo respeito, mas de forma geral, sou um cara bem regular e certinho.
– Então…
– Mas, sei lá, eu fico me descrevendo aos pedaços. Olha aqui nesse texto, o momento mais marcante da vida do personagem foi o mesmo que o meu.
– E qual foi?
– Foi o dia que descobri que todos os personagens do programa do Chico Anysio eram ele vestido com roupas diferentes. Eu tinha uns 11 ou 12 anos… isso me traumatizou. Até hoje quando conheço alguém novo, fico desconfiado, procurando uma peruca ou uma barba postiça.
– E você escreveu isso aí?
– Escrevi, e eu não queria.
– Puxa, parece coisa de múltipla personalidade.
– Isso mesmo. É como se eu tivesse duas personalidades que brigaram e não se conversam mais. Agora ficam trocando bilhetinhos.
– Você já procurou ajuda profissonal?
– Tipo, uma professora de português?
– Não. Um psicólogo ou psicanalista.
– Ah, já.
– E aí?
– Me ajudou no começo. Eu passei a escrever textos mais leves, bem humorados. Daí veio a reforma ortográfica e meus personagens voltaram a ser depressivos. Sabe como é. Parece que parte de mim era muito apegado ao trema. Acho que se algum dia acabarem com a crase, eu pulo da ponte.
– E você está escrevendo agora?
– Estou começando.
– E que tipo de história é?
– Bem… era para ser um thriller de ação, mas daí você chegou e agora parece que estou iniciando um romance…
Que bizarro.. AUHEHUaeuheahuae
hehe, para os menos antenados, “bizarro” é uma espécie de elogio atual. Vlw
Tenho um amigo que foi fã do Chico, mas um dia ele disse uma grande besteira e desde então, seu castelo ruiu.
Ei, eu estava com saudade desses seus comentários obscuros. Que bom que você voltou de suas férias intermináveis. Coloque a leitura em dia aqui no blog.
Achei exagerada a ideia de suicidio por causa da crase. Mas a reforma ortografica deixa muita gente paranoica mesmo. O Chico revela a idade do escritor, que ja deve ter passado dos 50 (considerando ser esta parte de sua autobiografia)
Pois é, exagerado mesmo esse negócio da crase. Se ainda fosse alguma mudança de concordância verbal… Olha só: deixa de difamação com relação à minha idade, que os programas do Chico Anysio foram reprisados por muitos anos, e eu assistia quando criança, mesmo depois que compramos TV colorida lá em casa.