Sono

– Oi – disse a voz atrás de mim. A voz era grave, séria, porém amistosa. E eu a conhecia bem.
– Sono, você por aqui…. – respondi, um pouco assustado, olhando nervosamente ao redor.
– Pois é, dando uma passadinha… como está o trabalho? Corrido?
– Corrido, muito corrido – respondi nervosamente, me levantando – Como você passou pela segurança?
– Passei fácil. Você sabe o que dizem… “uma hora o Sono passa”.
– O que você está fazendo aqui? Ninguém pode te ver.
– Relaxa, senta aí, ninguém vai me ver.
– Mas …
– Que estresse é esse? Você merece uma paradinha. Está com os olhos ardendo, não está?
– Estou, mas…
– Fecha eles um pouquinho. Não tem ninguém por aqui…
– Mas tá tudo atrasado, não posso parar. Hoje o dia está pesadíssimo.
– É, mas ontem a noite foi dureza. Lembra como você dormiu tarde? Todo mundo vai entender.
– Rapaz, mas… tá, mas ninguém pode saber que você está aqui – respondi, ainda nervoso.
– Calma, senta, relaxa. Ninguém vai me ver…- nisso entra um colega de trabalho na sala.
– E aí, beleza?
– Beleza…
– O que foi? Tá com sono?
– Não, to não – respondo, olhando em volta. O sono, esperto, se escondeu atrás do armário, perto da janela.
– Quer um café?
– Um café ia bem.
– Tá aqui – disse o colega já providenciando o copinho plástico cheio de um líquido fumegante e de gosto horrível – é ótimo para espantar o sono.
Nessa hora observei que o Sono havia saltado pela janela e corria pela rua, espantado.
– Valeu – respondi ao colega, voltando a me concentrar na tarefa.

Cinco minutos depois, ouvi a mesma voz grave e taciturna.
– Oi – disse o Sono – Cafézinho fraco esse daqui, não?

Comments
6 Responses to “Sono”
  1. Roberto Cantanhede disse:

    There he goes, the Sandman!

  2. Monica disse:

    São dez da noite e adivinha quem chegou aqui do meu lado ainda agorinha?
    Poizzzzzzé…

  3. Luis Claudio disse:

    Realmente esse é o companheiro dos inícios das tardes de trabalho. E olha que essa reunião a gente não precisa nem agendar. Texto muito bom.

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  • Sobre A Bicicleta

    Dia desses, a muito tempo atras, escrevi umas coisas que estavam na minha cabeça e nasceu uma primeira crônica (pelo menos na minha vida adulta). Ela se chama “A bicicleta”, daí o nome desse blog. Meu irmão até hoje prefere essa crônica, o que pode indicar que atingi meu ápice logo no início e depois foi ladeira abaixo… De qualquer modo, vez por outra sou assaltado por uma crônica (ver “Metacrônica”) e anoto por aí. Para não ficar por aí, passei a deixar por aqui nesse blog, apesar de meus receios (ver “O Blog”). Obrigado pela visita e não esqueça de comentar.